As grandes variações no piso e
dificuldade em equiparar o salário dos docentes ao de outros
profissionais com curso superior põe em discussão os critérios
utilizados para o reajuste e a maneira como os recursos são geridos.
O valor do novo Piso Nacional do
Magistério, anunciado na semana passada, causou desconforto. Com um
reajuste de apenas 7,97%, muito abaixo do previsto no ano passado, as
redes devem passar a pagar, no mínimo, 1.567 reais aos funcionários da
Educação. Apesar de estar acima da inflação, o aumento pouco contribui
para valorizar o Magistério e equiparar o salário dos docentes ao dos
demais profissionais com Ensino Superior completo - uma das metas do
Plano Nacional de Educação (PNE), atualmente em discussão no Senado.
O reajuste do piso já foi tema de debate em outras situações. Nos
dois últimos anos, os grandes aumentos (de 16% e 22%, respectivamente)
fizeram com que diferentes redes alegassem não ter condições de
pagá-los. Como resultado, greves se espalharam por todo o país. O
problema agora é o inverso: o baixo percentual pode agradar gestores
públicos, mas tende a desagradar aos educadores.
A explicação para o reajuste mudar tanto
de um ano para o outro está na maneira como esse percentual é
calculado. Por lei, o piso aumenta de acordo com a projeção de
crescimento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), composto por
diversos impostos. De 2011 para 2012, por exemplo, previu-se que o
Fundeb cresceria 22%, fazendo com que o piso saltasse de 1.187 para
1.451 reais. Já de 2012 para este ano, a previsão de crescimento foi
menor (7,97%), consequentemente, os salários subirão menos. Em outras
palavras: o critério atual permite que o aumento seja exageradamente
grande em anos de boa economia e insatisfatório quando o ritmo do
crescimento é mais lento.
Tanta instabilidade, é claro, preocupa tanto gestores quanto
professores e demais funcionários da Educação. Existem hoje dois
projetos de lei em tramitação no Congresso que propõem mudar o critério
do reajuste. Uma proposta é utilizar como base para o cálculo apenas do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A medida não é
bem-vinda, pois faz com que não exista um aumento real, o que
inviabiliza a equiparação do rendimento dos trabalhadores do Magistério
ao de outros profissionais com a mesma formação.
Outro projeto, defendido pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), pela Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação
(CNTE) e pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, aponta como
alternativa a combinação do INPC com uma fração da variação no Fundeb.
Com isso, será possível evitar saltos bruscos do valor do piso, mas
garantir que, na maioria dos casos, haja um aumento consistente. “A
única hipótese em que não haverá aumento real é no caso de o fundo ficar
estagnado, o que pode ocorrer em épocas de crise econômica”, explica
Salomão Ximenes, advogado da ONG Ação Educativa.
Além de rever as regras para o reajuste do Piso Nacional, é
necessário garantir que as redes terão como pagá-lo. Para isso, os
gestores públicos precisam fazer o dever de casa. Como explica Cleuza
Repulho, presidente da Undime: “é necessário
elaborar planos de carreira consistentes e garantir que não haja
professores exercendo cargos fora da sala de aula”, o que compromete o
orçamento. Os estados e municípios que, mesmo com medidas como essa, não
tiverem como arcar com os custos da folha de pagamento, podem receber a
complementação do governo federal, como previsto na lei do piso.
O fato é que a valorização dos profissionais de Educação é
fundamental e passa pelo pagamento de salários base dignos e pela
criação de planos de carreira atrativos. Mais do que apenas falar sobre a
importância da Educação, é hora de promover os ajustes necessários
tanto na lei quanto na gestão das redes para garantir que a melhoria se
torne realidade.
Fonte: Nova Escola
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